O New York Times publicou nos últimos dias, em primeira
página, um resumo de ações policiais que, com exceção de um caso, resultaram na
morte de pessoas desarmadas, oito negros — sendo um deles um menino de 12 anos
— e dois hispânicos. O artigo, na sua página da Internet, começa pela ação mais
recente. 19 de julho: Samuel Dubose, negro, 43 anos, foi morto a tiros depois de
ser parado por uma infração de trânsito (seu carro não tinha a placa
dianteira). 10 de julho: Sandra Bland, negra, 28 anos, encontrada morta na sua
cela, enforcada. A polícia alega suicídio. O motivo da abordagem policial que
levou à detenção: não deu sinal ao virar numa esquina. Junho 5: um policial
joga e prende uma adolescente negra contra o chão e aponta a arma para os
jovens que a acompanhavam. Ela estava apenas de biquíni. 12 de abril: Freddie
Gray, negro, 25 anos. Morreu, sob custódia policial, como consequência de uma
lesão sofrida na coluna durante sua detenção. 4 de abril: Walter L. Scott,
negro, 50 anos, morreu depois de receber um tiro nas costas disparado por um
policial que o perseguia. 10 de fevereiro: Antonio Zambrano-Montes, 35 anos,
hispânico. Morto a tiros por três policias enquanto levantava as mãos para se
render. 22 de novembro do ano passado: Tamir Rice, menino negro de 12 anos,
morto a tiros por um policial. O menino estava num parque com uma pistola de
brinquedo. 9 de agosto, também do ano passado: Michael Brown, negro, 18 anos,
morto por um policial em Ferguson, Missouri. 14 de julho: Eric Garner, negro,
43 anos, morto por asfixia durante seu arresto. Motivo da detenção: venda
ilegal de cigarros. Durante sua detenção, gravada pelo celular de um amigo,
repetia várias vezes: “não consigo respirar”. Junho 2, 2013: Ricardo
Diaz-Zeferino, 34 anos, hispânico. Morto a tiros pela polícia ao ser confundido
com um bandido. Também estava desarmado. De todos esses casos há vídeos que
mostram a ação dos policias. Há outro episódio igualmente revoltante, que não
foi registrado. É o do casal de negros crivado a bala por um grupo de policias
por, também, uma infração de trânsito. O casal estava desarmado e os policiais,
ao todo, dispararam mais de 130 balas.
Também nos últimos dias, já no Brasil, a Folha de São Paulo
publicou o resultado de uma pesquisa do instituto Datafolha. Aqui no Brasil,
nas cidades com mais de 100 mil habitantes, a maioria da população tem medo da
polícia militar. Numa pesquisa semelhante feita em 2012, mas em municípios com
mais de 15 habitantes, 48% dos entrevistados declaravam ter esse temor. O
perfil do cidadão que mais teme a polícia, segundo a mesma pesquisa: “jovens,
pobres, autodeclarados pretos e moradores do Nordeste”.
Entrevistas com brancos e com negros que viram os vídeos aos
que me refiro no início deste artigo, nos Estados Unidos, mostram que, enquanto
uns e outros se indignam, apenas os brancos ficam surpresos com a violência
policial. Já os negros estão acostumados, pois desde crianças testemunham ações
de policiais brancos contra eles e todos têm histórias, próprias ou de um
parente, de maus tratos e abuso policiais.
Denunciar o racismo faz parte de uma longa batalha, pois a
discriminação contra o negro, assim como contra o pobre, está nas raízes da
história de ambos os povos. O que para os brancos é apenas uma notícia no
jornal, para os negros é a própria história que está sendo contada; é a
experiência cotidiana de discriminação, violência e abusos sentidos em carne
própria e desde sua mais tenra idade. Não é fácil escrever artigos como este,
mas aqueles que temos a possibilidade de denunciar e lutar contra o racismo e a
discriminação não podemos nos omitir nem devemos calar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário